Este livro, além de comemorar o centenário da obra de Freud, é também uma homenagem a um dos maiores estudiosos de Filosofia da Psicanálise no Brasil, Luiz Roberto Monzani, falecido em julho de 2021.

Os textos aqui reunidos mostram a influência e o alcance das pesquisas de Monzani, para quem Além do princípio do prazer é um texto “desorientador e embaraçoso”. Seguindo os passos do autor de Freud: o movimento de um pensamento, as presentes reflexões procuram destrinchar os movimentos do texto freudiano e seus principais conceitos de modo muito elegante: com clareza e profundidade.

A noção de pulsão de morte é sem dúvida uma das mais discutidas. E não poderia ser diferente, afinal, como bem assinala Monzani, essa é uma das noções mais difíceis e confusas da teoria freudiana. Em Além do princípio do prazer, Freud justifica o aparecimento (ou reaparecimento) da noção de pulsão de morte tanto de um ponto de vista clínico quanto teórico.

Para a metapsicologia, a noção responde ao dualismo pulsional, formando par com a pulsão de vida, mas é pensado em termos distintos dos dois outros dualismos pulsionais (de autoconservação e sexual; do eu e sexual). Se por um lado na clínica deve dar conta da compulsão à repetição, da agressividade e do masoquismo originário, outras dificuldades decorrem da formulação da noção de pulsão de morte e de Além do princípio do prazer como, por exemplo: a pulsão de morte é, afinal, pulsão ou instinto?; é da ordem da universalidade ou da singularidade?; qual seu papel na evolução da vida psíquica?; qual, enfim, sua relação com a dor, o ódio e a sublimação?

Se Deleuze tem razão de dizer que Além do princípio do prazer é a obra-prima de Freud, o presente livro é uma excelente contribuição para sua compreensão. E em tempos de pandemia, de bio e de necropolítica, é uma ferramenta privilegiada para nos ajudar a refletir sobre o nosso tempo, nossos modos de vida, nossos modos de se relacionar, sentir e ser.